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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Um mundo pra sentir

Resenha do Filme: The Miracle Worker (O milagre de Anne Sullivan) 2000, drama, dirigido por Arthur Penn, baseado no livro The Story of my Life, de Helen Keller

Baseado na vida real de Anne Sullivan e Helen Keller, o filme retrata a história de uma persistente professora e sua aluna cega e surda, a quem ensina a conhecer o mundo ao seu redor. Neste momento há certa resistência por parte da família de Helen, que sempre a tratou com pena e sem aceitar suas diferenças.
A surpreendente e comovente história de Anne Sullivan e Helen Keller provoca um bruto despertar em seus espectadores. Antes de Anne Sullivan entrar em sua vida Hellen é tratada em momentos como um animal doméstico, em outros como uma menina selvagem. Reduzida em sua condição de “estranha”, Hellen era apenas um problema a ser relevado e levado em diante. Quando sua professora Anne Sullivan a conhece decide que não quer apenas treiná-la. Pois, muito além das regras de higiene e convivência, Anne pretende mostrá-la que ao seu redor existe um mundo, que pode ser tocado e vivido. Um mundo com aromas, texturas, propósitos e nomes.
Acredito que a metodologia utilizada por Anne aproxima-se muito de Skinner (estímulo e resposta) e em um primeiro momento pareceu maldoso. Como, por exemplo, quando Anne retira o parto de comida de perto de Helen, pois ela não está se comportando como deveria. Mas me pergunto: “Como Helen poderia aprender sem que provasse o mundo e as respostas que seus atos lhe trariam?” Lembrei neste momento de um filme que relata a vida do músico cego Ray Charles, onde ele cai e sua mãe não o ajuda, fica esperando que ele se levante. Por mais que ela estivesse extremamente tocada com o fato de ele cair e quisesse levantá-lo, resolveu que ele deveria tentar sozinho. Porque, afinal, não existe nada melhor que a experiência empírica para nos dizer algo, certo?
Também recordei em alguns momentos de Paulo Freire, que defende que a leitura do mundo precede a leitura da palavra. Pois Anne levou sua aluna para provar o seu mundo e partir da interação com o meio, pôde nomeá-lo e, assim, aprender a leitura das palavras. Esta aprendizagem não poderia ser diferente, pois Helen precisava ler o seu próprio mundo. Senti, ao ver o filme, que isso a deixou mais tranquila e confiante. Seu acesso a comunicação abriu uma nova porta de a levava de encontro ao mundo, já que outras duas portas, utilizadas por aqueles que vêem e escutam, estavam fechadas.
Ao concluir este relato, posso dizer que as vidas de Anne e Helen foram repletas de descobertas incríveis, frustrações dolorosas e recomeços corajosos. Penso que Anne escolheu uma profissão incrível e desafiadora. Talvez não exista profissão que exija tanta flexibilidade, paciência e força para tentar novamente, tudo de novo, desde o começo se for necessário.

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